sábado, 10 de janeiro de 2009

Fotografia = Luz e Linguagem

Para desenvolver meu conceito de fotografia, correrei o risco de parecer clichê e recorrerei à etimologia. A palavra 'fotografia' é formada pelo prefixo 'foto', que significa luz, e pelo sufixo 'grafia', que significa desenho ou escrita. Portanto, numa definição simplista, fotografia significa "desenhar com luz" ou "escrever com luz". Ou seja, fotografia é um método de registro de imagens através da projeção da luz sobre uma superfície foto-sensível.

Entretanto, não gosto da definição acima porque pode limitar nosso entendimento da fotografia ao mero registro automatizado, objetivo, sem criatividade. Prefiro fazer uma adaptação do significado etimológico e substuir os coneitos de 'desenho' e 'escrita' por 'linguagem'. Tal adaptação dá margem a uma interpretação mais ampla da fotografia como forma de expressão, de comunicação.

À primeira vista, a fotografia pode ser considerada como um registro fiel da realidade, prova inquestionável de que a situação fotografada é verídica. Mas uma análise mais apurada do ato de fotografar e dos recursos técnicos disponíveis nos leva a um outro entendimento. Por mais que o fotógrafo procure ser fiel à realidade, a câmera não pode captar a totalidade de uma cena. Diante de uma determinada situação, o fotógrafo precisa, no mínimo, escolher quais elementos (pessoas, objetos, etc.) aparecerão na fotografia e quais ficarão de fora. Além disso, o fotógrafo enquadra e compõe a cena de modo a dar sentido à imagem. Um outro fotógrafo perante a mesma situação poderia escolher outros elementos ou organizá-los de maneira diferente. De fato, é muito comum que dois fotógrafos registrando a mesma cena produzam fotografias bastante desiguais.

Some-se a isso outros recursos disponíveis nas câmeras fotográficas e nos processos de tratamento de imagens, os quais estudaremos mais tarde, e teremos infinitas possibilidades de dar sentido à imagem, de captar a realidade sob diversos pontos de vista.

Também o espectador, ao observar uma fotografia, não limita-se apenas aos elementos retratados e à relação entre eles. Para "ler" a imagem, o observador relaciona-a à sua cultura, memórias, experiências de vida. De maneira semelhante aos fotógrafos que registram uma mesma cena de maneiras diferentes, cada observador criará sua própria interpretação acerca de uma mesma fotografia.

Portanto, segundo a minha etimologia adaptada, fotografia é igual a luz e linguagem. Não se trata meramente de linguagem da luz, pois a linguagem fotográfica utiliza-se de outros recursos e até empresta elementos de outras linguagens (como a linguagem escrita, expressão corporal, símbolos, arquétipos, etc.).

Luz e linguagem são os dois elementos essenciais da fotografia.

Não é possível fotografar sem luz. Mais que isso: Cada ajuste da camera está relacionado, de uma maneira ou de outra, às variações de luminosidade. As características e condições da luz são muito freqüentemente utilizadas na linguagem fotográfica.

Também não existe fotografia sem linguagem. Mesmo que uma fotografia esteja totalmente desfocada ou borrada de forma que não possamos reconhecer o assunto fotografado, ainda teremos algumas informações como cor, brilho, contraste. E onde há informação, existe potencial para linguagem. Mesmo que o fotógrafo tenha tentado fazer uma imagem totalmente sem sentido, algum observador desavisado pode interpretá-la.

Qualquer fotógrafo, ao fazer uma fotografia, precisará ter em mente os conceitos de luz e linguagem. Ele terá que medir e analisar a luz. E a usará, em associação com outros elementos e recursos, para dar sentido à imagem fotográfica.

Sugestões de leitura:
A Linguagem da Fotografia (texto online)
A Câmara Clara, de Roland Barthes (livro)
Linguagem Fotográfica e Informação, de Milton Guran (livro)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sobre este blog

Desde 2006 fotografo o PrasBandas - “Mostra Curitibana de Arte e Cultura”, segundo a definição do próprio Getulio Guerra, criador do projeto. A mostra começou como um festival de bandas de rock com direito a jurados, competição e distribuição de troféus ao final. A idéia é circular os bairros da capital paranaense, abrindo espaço para que as bandas do próprio bairro possam se apresentar. No decorrer de 4 edições que passaram pelo Sítio Cercado, Xaxim, Boqueirão e Hauer, a idéia evoluiu. O PrasBandas abandonou o caráter competitivo e passou a ser mais abrangente, incorporando qualquer estilo musical e também outras formas de arte. Naquele mesmo ano optou-se por interromper as edições da Mostra e concentrar esforços na busca de parcerias e infra-estrutura.

Em 2009 o PrasBandas volta com apoio da Fundação Cultural de Curitiba e muitas novidades. Dentre estas, oficinas gratuitas para a população dos bairros, abrangendo astrologia, bateria, cinema/vídeo e fotografia. Começo a ministrar a oficina de fotografia em Fevereiro e, movido pela necessidade de escrever e organizar material didático, abri este blog, que pretende ser uma ferramenta de edição, compartilhamento e aperfeiçoamento colaborativo dos conhecimentos produzidos na oficina.

Sou admirador da obra do educador Paulo Freire e, inspirado por sua sabedoria, gostaria que este fosse um espaço de construção coletiva de conhecimento. Tenho certeza que não conseguirei implantar plenamente seu método de educação popular. No entanto, ficarei satisfeito se cada internauta que passar por essas páginas sentir-se à vontade para perguntar, opinar ou colaborar. O espaço de comentários está aberto a qualquer manifestação.

Sejam ben-vindos!

Obs: espero que um dos "efeitos colaterais" desse blog seja a melhora da minha habilidade de escrita. Quem sabe, no decorrer dos tópicos, eu consiga deixar minha escrita um pouco menos "seca" e mais descontraída :)